As mulheres vêm se destacando em posições de liderança no mercado de trabalho, tendência que chegou também no mercado imobiliário. No Brasil, as mulheres já ocupam 38% dos cargos gerenciais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme o Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci), elas já representam 40% dos profissionais do setor, contabilizando-se mais de 252 mil corretoras atuando no país, atualmente, um crescimento de 144% na última década.
Os dados demonstram o que os olhos já vêem. Aos poucos, as mulheres estão conseguindo assumir posições de liderança e conquistar seu espaço. Para corroborar os dados, a AutImob ouviu três mulheres que viveram na prática esse crescimento de carreira por esforço próprio e conquistaram espaços no mercado que é majoritariamente masculino.
Amelina Prates, Mariana Naue e Fernanda Vilarinho destacaram que o ponto positivo do mercado imobiliário, para as mulheres, é o poder de se mostrar através dos números, dos resultados obtidos. E esse espaço existe, independente do gênero. “Uma coisa que me encantou, é que na área comercial, a mulher pode ganhar tanto quanto ou mais do que os homens”, destacou Amelina. Com 15 anos de experiência no setor, sendo 11 anos e meio apenas como Diretora de Operações da Adão Imóveis, Amelina foi responsável por todos os processos que sustentavam a empresa, e viu a Adão deslanchar, chegando a faturamentos milionários.
Amelina Prates, sócia-fundadora da Orientar. Foto: acervo pessoal
No entanto, junto com o crescimento profissional, veio a sobrecarga de trabalho. “Chegou um determinado momento, atuando como diretora, que eu entendi que a minha missão ali já tinha se encerrado. Como executiva e sócia da Adão, a minha jornada de trabalho era muito dura, muito extenuante, e eu pensava em ter uma liberdade maior de horário, de atuação, de poder ter contato com outras empresas, com outros negócios”, relatou Amelina. Foi aí que surgiu a ideia de fundar sua própria empresa, a Orientar, consultoria em desenvolvimento humano e assessoria empresarial.
O mesmo aconteceu com Mariana Naue, que após 15 anos no mercado imobiliário, sendo 10 atuando diretamente no universo corporativo, decidiu arriscar e empreender. O resultado foi a Naue Consultoria, a primeira empresa de consultoria especializada no mercado imobiliário do Brasil.
“Cheguei no nível que eu entendi que já não fazia mais sentido, que eu queria viver, aproveitar meus filhos. E aí foi quando eu montei a Nauê Consultoria, em 2022”, lembrou Mariana. “Entendi que aquilo que eu estava vivendo não era o que estava coincidente com o que eu gostaria de continuar a viver, que é um fluxo de trabalho muito elevado, um cumprimento de horário, que são coisas que eu particularmente não acredito”, citou. A jornada dupla, a conciliação com a vida pessoal, a maternidade e outros afazeres, muitas vezes, são fatores que levam as mulheres a nem mesmo considerarem assumir cargos de liderança, mas, agora, o cenário está mudando. Elas estão alçando voos maiores, fazendo o nome, mostrando seu valor, para então ocupar espaços ainda maiores e mais condizentes com o que acreditam.
Mariana Naue, fundadora e CEO da Naue Consultoria. Foto: acervo pessoal
“Mesmo amando a empresa, eu pedi para sair. E aí quando eu saí, eu chorei por uns vinte dias, que é natural, e paguei uma mentoria. Eu realmente precisava entender, porque eu gostaria de levar o meu filho à aula de natação, às dez horas da manhã, na segunda-feira. E ninguém, nenhuma empresa no nosso mercado, iria abrir para isso, porque geralmente na segunda-feira, as empresas param para poder fazer reunião. E esse é um valor que eu sigo até hoje, que é um dos motivos pelo qual eu abri a minha consultoria, de que eu não trabalho na segunda-feira para ninguém no período da manhã”, exemplificou Mariana.
Apesar dos desafios, Fernanda Vilarinho, gerente comercial da Aevo Imobiliária, acredita que no mercado de trabalho as mulheres já se encontram no mesmo patamar dos homens, em potencial e força de atuação, no entanto, falta coragem para tentar galgar mais. “Tem pódio que só tem mulher, performando super bem. Mas, quando se abre um cargo de gestão, eu acho que tem pouca mulher se candidatando. Porque o homem parece que tem mais coragem. Naturalmente, já é da essência da mulher buscar mais segurança e menos risco. E, em segundo lugar, a gente tem a questão da dedicação, quando você é corretora, você consegue conciliar os horários, em casa e tudo. Quando você vem para a gestão, a gestão te consome mais”, detalhou.
Desafios que impulsionam, não limitam
Nesse sentido, o maior desafio, para as mulheres, não é se provar como profissional, é conseguir equilibrar as jornadas profissional, pessoal e familiar. “Para mim, um dos maiores desafios iniciais é conseguir gerar esse equilíbrio dos pratos, essa conciliação. E como hoje eu tenho uma rede de apoio completa, isso acaba otimizando muito o trabalho. Mas, assim, foi o equilíbrio que eu consegui achar, mas realmente não é fácil. Eu já tive que deixar o meu filho com febre para poder ir atender uma empresa enquanto empresária, pelo simples fato de que aquela entrega era só eu que fazia”, relatou Mariana Naue.
É aí que mora a força da mulher, conseguir dar conta de todos processos com maestria, equilibrando os pratos, com presença, profissionalismo, e acima de tudo, resultados. “ No mercado de trabalho, é um desafio que todos nós vivemos, porque é um mercado muito dinâmico, o cliente não espera, o lançamento não espera, as oportunidades de remuneração são altas para quem está ali com dedicação plena, para quem está disponível”, pontuou Fernanda.
Inspiração que arrasta
Cada vez mais, as mulheres têm buscado essa coragem para topar cargos maiores, postos mais altos e se elevarem nas carreiras. O exemplo tem arrastado e as posições de destaque têm crescido entre o público feminino. “Acho que a visibilidade ajuda. Quando você vê uma pessoa lá, você acaba abrindo portas para outras pessoas também, você acaba encorajando outras pessoas também. E eu acho que isso é uma coisa que as mulheres fazem muito bem, que é realmente encorajar umas às outras”, disse a gerente da Aevo.
Fernanda Vilarinho, gerente comercial da Aevo Imobiliária. Foto: acervo pessoal
“Hoje, a gente é um mercado que, quando você olha para dentro da imobiliária, já tem um grande número de mulheres corretoras, caminhando aí, talvez, para 50%, e performando bem”, acrescentou. E a percepção de Fernanda é, de fato, uma realidade. A participação feminina no mercado imobiliário brasileiro cresce de forma consistente. Atualmente, são mais de 252 mil corretoras atuando no país.
Muitas ocupam cargos estratégicos em imobiliárias, como gerentes de vendas e diretoras comerciais, e têm conquistado, cada vez mais, a confiança dos clientes. Segundo pesquisas, 55% dos consumidores preferem negociar com corretoras, principalmente por atributos como empatia e comunicação eficaz.