Foto: Win McNamee/Getty Images 

O anúncio do presidente norte-americano Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros caiu como uma bomba sobre a economia do país e acendeu o alerta em diversos setores, inclusive no mercado imobiliário. Embora os principais atingidos de forma imediata sejam o agronegócio e a indústria do aço, os reflexos da medida devem se espalhar pela economia como um todo, com impactos diretos sobre inflação, câmbio, juros e acesso ao crédito.

O tarifaço foi oficializado nesta quarta-feira (9), por meio de uma carta encaminhada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e já tem data para entrar em vigor: 1º de agosto. Atualmente, as taxas cobradas sobre produtos brasileiros exportados aos EUA estão em 10%. Com a nova medida, passam a 50%. O endurecimento nas relações ocorre após a reunião do Brics, bloco que, segundo Trump, "ameaça a hegemonia do dólar". Além disso, na carta enviada a Lula, na qual justifica a elevação da tarifa sobre o Brasil, Trump citou Jair Bolsonaro (PL) e disse ser "uma vergonha internacional" o julgamento do ex-presidente do Brasil no Supremo Tribunal Federal (STF).

Em reação, o governo brasileiro negou haver déficit nas trocas comerciais com os Estados Unidos e classificou a medida como injustificável. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também criticou duramente a decisão. “Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo americano”, afirmou o presidente da entidade, Ricardo Alban.

Do ponto de vista cambial, o economista Luiz Carlos Ongaratto destaca que o momento é de especulação e incerteza, o que já se reflete na desvalorização do real:

“Muito provavelmente o mercado já está precificando o real no sentido de quedas de PIB, diminuição do potencial de negócios. A princípio, o mercado financeiro reagiu com uma desvalorização do real, ou seja, parte do capital saindo do Brasil e indo para outros países.”

Ele acredita que os efeitos mais imediatos devem ser sentidos no mercado de capitais, com investidores em busca de ambientes mais seguros:

“É importante a gente olhar primeiramente nesse aspecto de investimento via mercado, via bolsa de valores.”

Apesar do impacto financeiro, Ongaratto não vê, neste momento, um risco de inflação decorrente da medida, nem alterações relevantes na dinâmica do crédito:

“A princípio, a gente não tem nenhum impacto direto aqui em termos de inflação. Muito dificilmente o Brasil vai taxar produtos americanos sem ter um produto substituto, para não causar inflação. O crédito aqui é mais uma questão mesmo de taxa de juros, em decorrência de uma inflação e de um cenário fiscal que está bastante deteriorado. São mais questões internas que vão nortear o mercado como um todo.”

Impactos no mercado imobiliário

A decisão de Trump ocorre em um momento delicado para a economia brasileira, que já enfrenta inflação persistente, juros altos e um mercado cambial sensível a ruídos políticos. O resultado é um aumento significativo da incerteza, um dos fatores mais prejudiciais ao setor imobiliário. Esse cenário tende a reduzir o apetite por risco, afetando diretamente o setor imobiliário.

Com menos previsibilidade econômica, o acesso ao crédito pode se tornar mais restrito, os custos de financiamento aumentam e muitas famílias ou investidores podem adiar decisões de compra. A construção civil também pode ser afetada com a possível elevação dos custos de insumos, especialmente os importados, pressionados pela alta do dólar.

A construção civil também deve sentir os efeitos. Com a valorização do dólar, insumos importados tendem a encarecer, o que pode pressionar os custos das obras. Ao mesmo tempo, o Banco Central pode ser forçado a manter, ou até elevar a taxa Selic para conter uma possível escalada inflacionária. Juros mais altos significam financiamentos mais caros e acesso ao crédito mais restrito, sobretudo para a classe média.

No que diz respeito ao setor imobiliário, o economista reforça que não há indicativos de aumento de custos, já que a cadeia produtiva do setor é majoritariamente interna:

“O setor imobiliário não tem uma indexação com o cenário externo, em termos de custos. Apesar de o Brasil exportar aço para os Estados Unidos, se ficar mais aço aqui, isso pode até gerar oportunidades para o setor.”

Com isso, ele mantém uma visão otimista para o mercado de imóveis:

“Segue o setor imobiliário sendo um bom investimento para pessoas físicas, jurídicas e investidores, com perspectiva de valorização. Sempre que houver boas oportunidades de compra, é interessante para o investidor brasileiro, especialmente em cidades com crescimento populacional e econômico, como é o caso de Goiás.”

Investimentos no exterior travados

Outro reflexo imediato deve ser observado entre os investidores brasileiros de alta renda, que vinham apostando em imóveis nos Estados Unidos como forma de diversificar patrimônio. Com a valorização do dólar e o ambiente de tensão entre os países, essa movimentação deve esfriar.

A busca por ativos dolarizados em solo norte-americano tem sido uma tendência crescente entre os brasileiros nos últimos anos. Agora, esse capital pode migrar para outros mercados, como Portugal, Emirados Árabes e até países da América do Sul, ou simplesmente permanecer represado.

Um cenário que exige cautela

Para especialistas do setor, o momento exige cautela e adaptação. Esse novo cenário deve mudar a dinâmica de investimento e consumo no mercado imobiliário. É hora de reavaliar estratégias, estudar tendências e, principalmente, manter atenção redobrada aos movimentos da política monetária.

A expectativa agora recai sobre o Banco Central, que terá a difícil missão de conter a inflação sem comprometer ainda mais o crescimento econômico. Caso a autoridade monetária não consiga equilibrar os riscos, o mercado pode enfrentar uma nova fase de retração.

Fonte: Veja; Jornal O Globo e CNN.