Mesmo com a taxa Selic a 15% ao ano, o que eleva significativamente a atratividade de aplicações de renda fixa, o brasileiro não abandona a ideia de investir em imóveis. Para muitos, a casa própria vai além de um objetivo pessoal: é um instrumento de proteção financeira, renda e construção patrimonial. Mas, na prática, essa escolha ainda faz sentido?

A convite da revista Exame, a RE/MAX, uma das maiores redes de franquias imobiliárias do mundo, simulou cenários que colocam frente a frente o financiamento de um imóvel e o investimento do valor de entrada em títulos públicos indexados à inflação (Tesouro IPCA+).

As simulações consideram um imóvel de R$ 600 mil, com entradas de 30%, 40% ou 50% (R$ 180 mil, R$ 240 mil e R$ 300 mil, respectivamente), e o restante financiado ao longo de 30 anos. Utilizando como base a valorização média dos imóveis em São Paulo nos últimos anos, de 5,8% ao ano segundo o FipeZAP, o imóvel chegaria a valer cerca de R$ 3 milhões ao final do prazo, mesmo com um custo total de financiamento superior a R$ 1 milhão.

Já nas aplicações financeiras, os resultados são ainda mais expressivos: aplicando os valores de entrada em Tesouro IPCA+ ao longo do mesmo período, os montantes finais projetados seriam de R$ 7,1 milhões (entrada de R$ 180 mil), R$ 9,5 milhões (R$ 240 mil) e até R$ 11,8 milhões (R$ 300 mil).

Por que, então, ainda se financia imóveis?

Apesar de os números favorecerem o investimento em títulos públicos, o imóvel segue sendo visto por muitos como um ativo de valor e não apenas financeiro. Mozart Mattoso, diretor-executivo da RE/MAX, explica que o rendimento do imóvel deve ser considerado sobre o valor total do bem, mesmo que parte dele ainda esteja financiado.

“Você começa a usufruir do imóvel desde o início: pode morar, alugar ou vender. O dinheiro aplicado, por outro lado, fica indisponível por um longo período”, afirma.

Além disso, segundo Mattoso, num cenário com Selic elevada, o financiamento pode ser vantajoso até em relação à compra à vista. A estratégia? Usar parte do capital para dar a entrada e manter o restante aplicado, garantindo rendimentos que, em muitos casos, cobrem as parcelas do financiamento.

Cenário histórico reforça apego ao 'tijolo'

A relação do brasileiro com o imóvel como símbolo de segurança vai além da matemática. Nos anos 1980 e 1990, o país enfrentou hiperinflação e medidas econômicas drásticas, como o Plano Collor, que confiscou poupanças e aplicações financeiras da população.

Quem tinha patrimônio em imóveis, no entanto, escapou do bloqueio. Essa memória coletiva ainda influencia decisões financeiras, especialmente entre famílias das classes média e baixa.

“Fato é que o preço do imóvel e o custo do aluguel sempre crescem. A Selic varia, mas o imóvel é um bem real. É seu”, reforça Mattoso.

Preferência comprovada em números

De acordo com o mais recente Raio-X do Investidor Brasileiro, levantamento da Anbima, 74% da população ainda considera a compra e venda de imóveis uma forma de investimento. Para quem busca renda passiva, uma aposentadoria segura ou patrimônio a longo prazo, o imóvel segue como uma escolha sólida.

Já para quem tem o perfil mais arrojado, deseja alta rentabilidade futura e pode abrir mão de liquidez imediata, os investimentos em títulos podem oferecer retornos mais robustos, mas com uma dose maior de planejamento e risco de mercado.

Fonte: Exame.