A crescente adoção de práticas ESG, sigla para Ambiental, Social e Governança, está provocando mudanças significativas no mercado imobiliário. De iniciativa de poucas incorporadoras pioneiras, a certificação ESG passou a ser um diferencial competitivo e, em muitos casos, uma exigência para investidores, financiadores e consumidores atentos à sustentabilidade e à transparência corporativa.

Imóveis com certificações reconhecidas, como LEED, BREEAM, AQUA-HQE, EDGE e WELL, vêm apresentando melhor desempenho em vendas e locações, além de ganhos concretos na valorização patrimonial. Segundo dados do Green Building Council Brasil, empreendimentos certificados chegam a ser vendidos ou alugados por valores até 25% superiores à média do mercado. A eficiência energética, o uso racional da água, a qualidade do ar interno e a gestão adequada de resíduos são apenas algumas das exigências cumpridas por esses projetos, que também costumam gerar economia significativa nas despesas operacionais, chegando a reduzir os custos em até 30%.

Mas o impacto das práticas ESG vai além do aspecto ambiental. O pilar social tem ganhado espaço, com atenção redobrada a projetos inclusivos, acessíveis e com impacto positivo nas comunidades onde se inserem. Já no campo da governança, incorporadoras e construtoras estão sendo pressionadas a adotar padrões mais rigorosos de compliance, prestação de contas e combate à corrupção, elementos que elevam a reputação e a segurança jurídica dos empreendimentos.

O interesse do mercado financeiro também impulsiona essa transformação. Bancos e fundos de investimento têm priorizado a destinação de recursos para projetos sustentáveis, com condições diferenciadas de financiamento para empreendimentos com certificação ESG. Em algumas cidades, há também incentivos fiscais, como redução de IPTU para prédios verdes. No cenário global, cresce a tendência dos “green bonds” e das “green mortgages”, que devem ganhar mais espaço no Brasil nos próximos anos.

Por outro lado, o desafio é tornar esse movimento mais acessível e menos concentrado em empreendimentos de alto padrão. O custo das certificações ainda é uma barreira, e o conhecimento do consumidor sobre ESG é limitado. Pesquisas mostram que a maioria dos compradores não está familiarizada com o tema e nem sempre associa sustentabilidade a um diferencial relevante no momento da compra.

Ainda assim, o avanço é consistente. Incorporadoras que investem em práticas ESG não apenas contribuem para um desenvolvimento urbano mais responsável, como também se posicionam melhor frente às exigências de um mercado cada vez mais atento aos impactos sociais e ambientais da construção civil. A tendência é que, em médio prazo, critérios ESG deixem de ser um diferencial e passem a ser requisito básico para competir e crescer no setor imobiliário.