Projetado para ser um bairro modelo cidade-jardim com referências estrangeiras, o Setor Sul deu errado no início, fator que não interferiu para que ele, nos dias atuais, fosse considerado um dos bairros mais charmosos de Goiânia. O projeto urbanístico do bairro foi desenhado pelo arquiteto Armando de Godoy, um dos urbanistas brasileiros mais importantes da primeira metade do século XX, mas, apesar do belo conceito desenhado no papel, a prática foi executada pelos primeiros habitantes de forma bem diferente da original.

O modelo seguido por Armando tinha como ideal implementar um formato urbanístico com vielas e praças internas, com abundância de áreas verdes. O projeto respeitava a declividade natural da região e buscava a preservação das vegetação local.



Figura 17 - Planta de Zoneamento do Setor Sul. Jerônimo Coimbra Bueno, Superintendente-Geral, Werner Sonnenberg, projetista, e Armando de Godoy, consultor. Fonte: ACERVO JANSSEN, Museu Antropológico da UFG



A planta original do bairro estipulava que as casas deveriam ser construídas com a entrada principal voltada para as áreas verdes, os atuais bosques do setor, enquanto as entradas de serviço, que guardam as garagens, deveriam ser voltadas para as ruas sem saída. No entanto, antes do bairro ser urbanizado, os donos dos terrenos receberam permissão para iniciar as construções sem antes terem um direcionamento do projeto e acabaram construindo as casas com as entradas principais viradas para as ruas sem saída, deixando os fundos voltados para as áreas verdes.

Assim, o objetivo central de que as ruas principais tivessem o tráfego reduzido e os moradores pudessem ter os parques como extensão de área livre de convivência de suas casas, foi desviado. Apesar disso, o bairro manteve parte do conceito original, com vários bosques espalhados entre as ruas sem saída, fato que o caracterizou e deu um charme especial.


Bosque dos Pássaros, Setor Sul. Foto: Aprosul
Bosque dos Pássaros, Setor Sul. Foto: Aprosul
Praça Duque de Caxias, Setor Sul. Foto: Aprosul
Praça Duque de Caxias, Setor Sul. Foto: Aprosul
Bosque dos Pássaros, Setor Sul. Foto: Aprosul
Bosque dos Pássaros, Setor Sul. Foto: Aprosul



Tentativa de revitalização

A urbanização do Setor Sul só se deu com mais força em meados das décadas de 1950 e 1960, quando as construções começaram a avançar. Após o desvio do projeto inicial, o desenho traçado por Armando em muito se perdeu e, com o tempo, muitas áreas que eram centrais na ideia original foram sendo ocupadas, alterando a paisagem proposta.

Em 1970, os moradores lançaram uma tentativa de revitalização do projeto original, formulando o Projeto Comunidade Urbana para Recuperação Acelerada (Cura), que tinha objetivo de urbanizar e equipar as áreas verdes conservadas com playgrounds e quadras para uso dos moradores. A iniciativa visava a restituição das áreas comuns, assim como proposto no projeto. Entretanto, apesar do projeto Cura, concluído em 1980, novamente, a idealização de Armando de Godoy não foi alcançada.

Nos dias atuais, o Setor Sul segue sendo um dos bairros mais característicos da capital, mantendo sua identidade histórica e urbanística, se consolidando como um dos setores mais antigos da cidade. No setor encontram-se importantes cenários, como a Praça do Cruzeiro, que é patrimônio histórico, tombado em 2014. No local, onde está erguido o Monumento do Cruzeiro do Sul, foi celebrada a primeira missa campal de Goiânia, em 1948, um marco da memória da capital.