Uma tecnologia empregada em prédios altos ou em locais onde o terreno não é adequado para fundações convencionais foi utilizada em um dos prédios mais altos do país. A técnica, nomeada de piled raft, foi empregada no arranha-céu brasileiro Boreal Tower, que possui 240 metros de altura.

O edifício da FG Empreendimentos, construtora já conhecida por seus projetos audaciosos, inovadores e por ser a responsável pelos prédios mais altos do Brasil, como o Senna Tower, foi a primeira a adotar a tecnologia no país. O Boreal Tower, que fica em Balneário Camboriú (SC), ao invés de usar o tradicional sistema de vigas, usa um grande bloco de concreto armado ancorado no solo rochoso.

Como funciona o sistema

Uma "piled raft", ou fundação com estacas e radier, em português, é um sistema de fundação que combina estacas com um piso de concreto de grande área, para suportar uma estrutura. A combinação permite distribuir a carga da estrutura de forma mais eficiente para o solo, especialmente em solos com baixa capacidade de suporte.

O piled raft, apesar de ser um sistema diferente dos convencionais, garante a sustentação necessária para suportar o peso da edificação, já que transfere a carga do edifício para o solo rochoso. O sistema fixa os blocos de concreto de forma firme no solo, distribuindo o peso do edifício de modo eficiente, simulando raízes. A construção finca o bloco diretamente nas rochas, sem necessidade de escavações profundas, o que também reduz o tempo de obras.

Esse tipo de bloco de fundação, que são radiais com alturas elevadas, precisam de estacas para chegar às camadas rochosas. Conforme a capacidade de cada estaca e da característica do solo, é estipulada a profundidade. De acordo com o Engenheiro Civil, Marco Aurélio, esse tipo de fundação já não utiliza vigas. É o caso do projeto do Boreal Tower. 

"Esse sistema permite, dentro do que foi proposto, dentro dessa fundação, que está abaixo da superestrutura, fazer sem vigas. Entretanto, a solução que tem nesse prédio em Balneário Camboriú não diz respeito somente à fundação em si, mas também à superestrutura. A superestrutura com ausência de vigas vai fazer pilares e lajes. As lajes apoiadas diretamente aos pilares, ou se dentro, na região de superfície de contato de pilares e vigas, tem o engrossamento da laje", explica Marco.

De acordo com o engenheiro, esse sistema, além de dar maior sustentação à estrutura, ainda permite algumas facilidades. "Você tem a flexibilidade arquitetônica, você não vai ter aquelas vigas passando no meio de ambientes, e vai facilitar a modulação de ambientes", salienta. 

Sistema seguro

O diretor de engenharia da FG, André Bigarella, relatou ao Portal Massa Cinzenta exatamente o que foi destacado por Marco Aurélio. O projeto do Boreal Tower possui um sistema estrutural diferente dos convencionais, sem as vigas internas, o que proporcionou ambientes com espaços mais livres e amplos. Ele foi o primeiro da região a utilizar paredes de concreto com base no sistema de pilares e lajes.

“A equipe técnica da empresa viajou pelo mundo todo em busca das melhores tecnologias disponíveis no mercado, desde a logística de obra até a aplicação de tubulações, instalações e válvulas redutoras de pressão, além de sistemas de fachadas unitizadas e automação predial”, disse André ao Portal.

Conforme os especialistas, esse tipo de engenharia permite a sustentação de estruturas mais robustas. Por esse motivo, é uma tecnologia seguramente utilizada em prédios altos. Além disso, é o sistema que se mostrou mais adequado para ser usado em solos rochosos ou instáveis, devido a resistência e a capacidade de fixação.