O mercado imobiliário brasileiro contrariou expectativas no primeiro semestre de 2025. Mesmo com a taxa básica de juros em patamares historicamente elevados, o setor registrou recordes em vendas e lançamentos, consolidando-se como um dos motores da economia.

De acordo com dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), foram comercializadas 206.903 unidades residenciais entre janeiro e junho, crescimento de 9,6% em relação ao mesmo período de 2024. No mesmo intervalo, os lançamentos subiram 6,8%, alcançando 186.547 unidades.

O programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) foi o grande destaque do semestre, com alta de 25,8% nas vendas, totalizando 95.483 unidades. As condições de crédito mais acessíveis e a ampliação de subsídios estaduais e municipais explicam o desempenho expressivo, mesmo em um ambiente macroeconômico restritivo.

Por outro lado, a oferta de imóveis caiu 4,1%, reduzindo o estoque disponível e sinalizando pressão de demanda. No segundo trimestre, enquanto os lançamentos recuaram 6,8%, as vendas cresceram 2,6%, movimentando aproximadamente R$ 68 bilhões.

“Crescimento aconteceu apesar da Selic alta”

O economista Ricardo Amorim destaca que o resultado surpreendeu até os mais otimistas. Para ele, a força do setor em meio à escalada dos juros mostra a resiliência da demanda por imóveis.

“Houve um crescimento de quase 10% das vendas de imóveis e um crescimento de quase 7% dos lançamentos. Com isso, o total de vendas no semestre passou de 200 mil imóveis e os lançamentos chegaram muito perto desse número. Quando a gente pega o acumulado em 12 meses, passa de 400 mil imóveis, que é basicamente o dobro do que era em 2020”, afirma.

Segundo Amorim, o que mais chama atenção é que o movimento ocorreu em paralelo à disparada da taxa Selic.

“A gente teve um crescimento muito substancial do mercado imobiliário brasileiro, o que chama atenção porque isso aconteceu apesar de um movimento de alta muito forte da taxa Selic ao longo desse período. Lembrando, a taxa Selic foi de 2% ao ano para 15%. Em geral, quando isso acontece, há uma retração forte da oferta de crédito e particularmente de crédito imobiliário e isso segura as vendas. Não foi o que aconteceu dessa vez.”

Expectativa de queda dos juros e novos impulsos

Para Amorim, a perspectiva para o setor é ainda mais positiva nos próximos trimestres, já que o ciclo de redução dos juros deve começar no final deste ano.

“Isso deixa a gente imaginando com o que pode acontecer à medida que a taxa de juros caia, que é o que deve começar a acontecer entre o finalzinho desse ano e o começo do ano que vem. Ao longo do ano que vem é provável que haja queda da taxa de juros, expansão de crédito imobiliário e a consequência normal costuma ser mais busca por imóveis”, avalia.

Com estoques cada vez mais baixos, hoje equivalentes a pouco mais de oito meses de vendas, a tendência natural, segundo o economista, é de aumento nos preços.

“Quando isso acontece, pelo menos no passado, sempre o que houve foi elevação de preços: mais gente querendo comprar imóvel, uma disponibilidade não tão grande, os preços sobem. Fica aí a dica”, ressalta Amorim.

Perspectivas para o mercado

O desempenho robusto de 2025 reforça a importância do setor imobiliário para a economia nacional. A combinação de demanda consistente, programas habitacionais fortalecidos e expectativa de crédito mais barato projeta um cenário de continuidade no crescimento.

Se no primeiro semestre o mercado já mostrou capacidade de se expandir mesmo diante de juros elevados, a tendência é de que o segundo semestre deste ano, e 2026, tragam ainda mais dinamismo. Para investidores e consumidores, o recado é claro: o mercado imobiliário brasileiro permanece como uma das apostas mais sólidas em meio às transformações econômicas do país.