Embora Goiânia seja reconhecida por sua qualidade de vida, sendo o município com maior área verde por habitante (94 m²) do país, o crescimento da capital dos últimos anos tem comprometido o bem-estar dos moradores da cidade que já é a 10ª em população no país, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo a pesquisa Viver nas Cidades -- Mobilidade, realizada pelo Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) e a empresa Ipsos - cerca de 300 mil pessoas gastam pelo menos duas horas por dia no trânsito para ir e voltar do trabalho. E há uma tendência dessa condição transpor barreiras, já que Goiás registrou um crescimento de mais de 20% no volume de veículos tanto novos quanto seminovos em 2024, em comparação com o ano anterior, conforme dados da Anfavea - Associação Nacional dos fabricantes de veículos automotores.

Quando chegam as chuvas, problemas decorrentes da falta de permeabilidade do solo, da rede elétrica, o que inclui a fiação precária, são alguns desafios que afetam a cidade em franco crescimento populacional. Estes problemas se multiplicam quando se fala na região metropolitana de Goiânia, uma vez que ela apresentou a segunda maior taxa de crescimento populacional no Brasil, na ordem de 19,35% entre 2010 e 2022.

“O planejamento urbano não conseguiu acompanhar o ritmo de crescimento da maioria das cidades brasileiras, que receberam todo o êxodo rural no século passado”, diz o arquiteto gaúcho Guilherme Takeda, que estará em solo goiano dia 12 de novembro para falar sobre como o novo urbanismo pode ajudar a resgatar a qualidade de vida das cidades.

O conceito defende bairros policêntricos, caminháveis, sustentáveis e com senso de pertencimento, onde moradia, trabalho, comércio e lazer coexistem em um mesmo território. A natureza também é uma protagonista desta forma pensar as cidades, que nasceu nos EUA e vem sendo aplicado em todo mundo.

Takeda vem a Goiás a convite da CINQ Inteligência Urbana, que irá desenvolver o primeiro bairro com o conceito do Novo Urbanismo do Centro-Oeste, em Aparecida de Goiânia, onde, diferentemente de capitais como Goiânia, ainda existe espaço físico para desenvolver uma nova história de ocupação.

Com 537 mil habitantes, a cidade da região metropolitana já é a 17ª maior do país - ao excluir as capitais - mas tem a seu favor o que já foi considerado um problema: os vazios urbanos. Atualmente, conforme a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, existem cerca de 70 mil lotes - atingindo 8,7 milhões de metros quadrados ao considerar apenas as medidas mínimas. Entretanto, esse volume pode aumentar, e muito, ao levar em conta as áreas de proporções maiores.

É justamente em um destes espaços urbanos vazios que será possível executar o planejamento urbano com base no novo urbanismo. Em uma área total de 310 hectares, a CINQ irá desenvolver a Cidade do Amanhã, no qual propõe devolver as cidades para as pessoas.

“No Novo Urbanismo, as pessoas são mais importantes do que os carros. A ênfase é que todas as implantações favoreçam que elas se apropriem de todos os espaços. Moradia, estudo, trabalho e lazer coexistem próximos para que seja possível acessá-los sem precisar de automóvel. As calçadas são acessíveis e sombreadas para que a caminhada seja estimulada. As fachadas ativas das lojas de rua convidam o público para as compras ao ar livre”, descreve o engenheiro e sócio da CINQ, Eduardo Oliveira.

A presença de áreas verdes é outra vertente do novo urbanismo, e elas se tornaram um ativo importante para a população. Espaços pensados nesse sentido, melhoram a qualidade do ar, ajudam a reduzir a temperatura e mitigam catástrofes naturais.

E é esse é outro essencial do projeto - onde a natureza como eixo estruturante do projeto, conceito que a CINQ denomina Naturbanidade. “Entendemos que natureza, urbano e comunidade podem coexistir em harmonia. A natureza é parte do projeto, não apenas um adorno. Ela contribui para a saúde física e mental dos moradores, reduz ilhas de calor e melhora a qualidade de vida”, destaca Eduardo.