A cidade de Goiânia tem se consolidado como um importante polo de atração de turistas de diversas naturezas: negócios, saúde, eventos culturais e esportivos. Este crescimento, somado ao número de migrantes registrado nos últimos anos, tem impulsionado diretamente a demanda por leitos de hospedagem, exigindo uma leitura mais profunda da relação entre oferta e demanda nos diferentes segmentos do mercado.

Segundo o Censo Hoteleiro de Goiânia de 2022, atualmente a cidade conta com aproximadamente 15.000 leitos na rede hoteleira formal e cerca de 5.000 leitos ofertados via plataformas como Airbnb, estes últimos estão concentrados nos bairros nobres como Setor Bueno, Jardim Goiás e Marista. Apesar da expansão constante das hospedagens alternativas, a análise dos perfis de usuários mostra que esses dois meios de hospedagem não são concorrentes diretos, mas sim complementares.

Dados do Goiás Turismo apontam que hotéis da categoria standard (até 3 estrelas) compreendem a maioria dos estabelecimentos em funcionamento na capital - por volta de 108 hotéis - e atendem prioritariamente: turistas com motivação profissional, comercial ou de saúde; viagens de curta duração (tempo médio de permanência entre 1,5 a 3 dias); pessoas em deslocamento funcional, como comerciários da região da 44, acompanhantes de pacientes e profissionais do agronegócio. Já os usuários de plataformas digitais como Airbnb têm outro perfil: casais e grupos em viagens de lazer; participantes de eventos culturais, turnês e shows; estadas mais longas, com foco em conforto, ambientação mais pessoal, privacidade e autonomia.

A disposição geográfica desses tipos de hospedagem em Goiânia também é diversificada: enquanto os hotéis standard estão no centro, bairros como Aeroporto, Oeste, Centro, Vila Nova, onde predominam regiões com acesso à saúde e ao comércio, os Airbnbs se concentram em áreas de alto padrão, próximas a shoppings, parques e centros de eventos, onde inevitavelmente o valor do m² é superior a média da cidade, com destaque para bairros como Bueno, Jardim Goiás e Marista.

Mesmo com o crescimento do número de leitos ofertados via plataformas digitais, a atual estrutura de hospedagem da cidade opera no limite durante grandes eventos. Não é raro, em datas como estas, encontrar hotéis com lotação máxima e ainda assim a previsão de manutenção (e expansão) do calendário de congressos médicos, feiras agroindustriais, shows e eventos esportivos como o MotoGP, reforça a perspectiva de pressão sobre a capacidade de hospedagem. Especificamente em relação ao campeonato mundial de motovelocidade, que terá sua primeira temporada em Goiâna a partir do ano que vem, é estimado um público total presente no fim de semana da corrida próximo a 150.000 pessoas, dos quais 67.000 buscarão algum tipo de acomodação.

Essa tendência indica que a taxa de ocupação continuará satisfatória nos próximos anos, mesmo com o aumento na oferta dos leitos alternativos, pois diferentemente dos hotéis, o público que escolhe acomodações via plataformas digitais tem por predileção na hospedagem: sensação de estar em casa, ambiente menos impessoal, localização mais desejável e próximas a conveniências e eventos.

Mesmo assim, a evolução da oferta via plataformas digitais não compromete a sustentabilidade econômica dos hotéis da categoria standard em Goiânia. Ao contrário, revela um ecossistema turístico mais completo e apto a atender perfis diversos. A complementariedade entre os dois modelos permite afirmar que a demanda seguirá sendo suficiente para manter a rentabilidade de ambos os setores.

Portanto, para investidores, gestores públicos e empreendedores, a conclusão é clara: Goiânia comporta, e continuará comportando, a coexistência saudável entre hotéis e plataformas de hospedagem digital, com ampla margem para expansão planejada em ambos os formatos.





Felipe Gonçalves é Engenheiro Civil, atuante no mercado imobiliário como corretor de imóveis desde 2018, especializado no atendimento do púbico investidor. Ocupa a gerência de Novos Negócios do Grupo GPE.