Há 10 mil anos, o homem deixou a vida nômade com o desenvolvimento da agricultura e pecuária. Diante dessa enorme mudança, as moradias que até então eram temporárias passam a ser fixas, e elas vem recebendo atenção e melhorias ao longo da história.

Com o passar dos anos e evolução das cidades e do trabalho, os riscos à sobrevivência humana mudaram. Não eram mais os predadores, a dificuldade por comida e água, muito menos por intempéries da natureza. A segurança continuou a ser importante para a sociedade, mas além de cumprir esta função, as moradias passaram a exercer outras responsabilidades, como promover a saúde dos homo sapiens.

Hoje, a sociedade convive com riscos externos voltados ao sistema psíquico-emocional, com consequências trágicas como problemas de saúde, estagnação profissional, ruptura familiar, desenvolvimento disfuncional de crianças e adolescentes, entre outros. E a moradia evoluiu, passando a ter também o papel de ser um ambiente regenerador e um aliado terapêutico para vencer grandes desafios da vida e do trabalho.

As residências, ao invés de enclausurar - situação comum nos grandes centros urbanos - precisam oferecer estrutura esportiva, lazer, conveniência, espiritual, enfim, atividades que patrocinam o bem-estar e diminuem os ruídos externos.

A neuroarquitetura trouxe uma grande contribuição para que os projetos atendessem esta necessidade atual. Ela estuda e projeta espaços para garantir uma relação estratégica entre espaço físico e sistema endócrino, produzindo bem-estar e bloqueando estresse.

A arquitetura estratégica consegue projetar ambientes além do que até então se chamava de funcionalidade. Espaços que ajudam a gerir nossas emoções. Seja um home office que favorece a concentração, um quarto que induz ao descanso profundo ou áreas sociais que estimulam a convivência harmoniosa, cada ambiente pode ser projetado para ajudar a termos o melhor comportamento para cada situação. Isso se torna possível através da combinação inteligente dos elementos como iluminação, acústica, ergonomia, temperatura, layout e até aromas, favorecendo o conforto dos nossos sentidos.

O futuro próximo nos reserva avanços ainda mais significativos. Com a integração de câmeras, sensores e inteligência artificial, as residências poderão detectar em tempo real o humor dos moradores e ajustar automaticamente parâmetros como iluminação, temperatura e até playlist sonora para criar a atmosfera mais adequada a cada momento. Essa personalização extrema transformará nossos lares em verdadeiros aliados à nossa saúde e na relação com os que mais amamos.

Que busquemos por mais ambientes estratégicos para nossas casas, quanto maior o equilíbrio entre ambientes estressores e regeneradores, mais preparados estaremos para enfrentar os desafios da vida moderna, ajudando a alcançar nosso pleno potencial como indivíduos. O lar do século XXI será, antes de tudo, um guardião da nossa saúde e prosperidade.





Anderson Accioli, engenheiro civil e sócio da Yutá Inc.